Abdias do Nascimento e o Teatro Brasileiro Moderno

BIOGRAFIA

 

Abdias do Nascimento (14 de março de 1914- 24 de maio de 2011) nasceu em uma família pobre da cidade de Franca, interior do Estado de São Paulo. A sua mãe se chamava Georgina, conhecida como dona Josina, o pai se chamava José e sua avó materna dona Ismênia. Apesar de ter nascido no contexto pós-abolição, o racismo era marcante e com bastante força na sociedade brasileira.

Da infância, Abdias absorveu os saberes dos mais velhos, que eram repassados através da oralidade. Aos nove anos, já trabalhava entregando leite e carne nas casas dos moradores brancos e assim ajudava a família financeiramente. Aos 11 anos ia para a escola de manhã, trabalhava em um consultório médico à tarde e à noite fazia curso de contabilidade. Era apaixonado pelo circo o que identificou mais tarde como o seu encantamento inicial pelo teatro.  

Com cerca de 20 anos, Abdias foi para a capital São Paulo e participou da Frente Negra Brasileira, que realizava protestos em locais públicos contra o racismo. Perseguido pela polícia de São Paulo, resolve então partir para o Rio de Janeiro. Sua primeira residência foi o morro da Mangueira, bem perto da famosa Escola de Samba.  As diversas manifestações culturais da população Negra carioca atraíram a atenção do jovem Abdias que passou a frequentar o famoso candomblé de Joãozinho da Goméia. Também se tornou amigo de outros Negros de destaque na cena cultural carioca, como o poeta Solano Trindade e o maestro Abgail Moura.

Viajando pelo Chile, assistiu uma peça de teatro sobre a história dos Negros e percebeu que todos os atores eram brancos. Abdias começou a refletir sobre a não existência de atores Negros no teatro brasileiro. Voltando ao Brasil, foi preso por combater o racismo. Na prisão do Carandiru, Abdias se dedicou intensamente à leitura e criou o TEATRO DO SENTENCIADO, um grupo em que os atores eram os próprios presos, ele o diretor dos espetáculos e no processo de ensaio também ocorria a alfabetização dos presos.

Ao deixar a prisão, fundou o TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO, ao lado de Arinda Serafim, Aguinaldo Oliveira e Ruth de Souza, entre outros. A estreia do grupo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 18 de maio de 1945 e foi um enorme sucesso, apesar de parte da crítica racista da época ter feito duras opiniões à iniciativa de um teatro de atores Negros, afirmando ser desnecessária, pois não havia racismo no Brasil. Com o sucesso da companhia, escritores brasileiros passaram a escrever peças teatrais especialmente para o TEN.

Paralelamente ao trabalho de dirigir e atuar no TEN, Abdias Nascimento também seguia a carreira de ator de cinema. O ano de 1948 marca a fundação do jornal Quilombo. Mais tarde, Abdias publicaria o livro “O Negro Revoltado”.

Com a ditadura militar de 1964, as manifestações Negras enfrentaram forte repressão por parte dos governos o que levou Abdias a buscar exílio nos EUA, onde se tornou professor universitário em Nova York e defensor do movimento PAN-AFRICANISTA. Entre 1976 e 1977, Abdias residiu na Nigéria, onde atuou como professor visitante na Universidade de Ifé. O exílio terminou em 1981 quando retornou para o Brasil e criou o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro).

Em 1982, Abdias foi eleito para o posto de Deputado Federal, sob a bandeira da luta contra o racismo. Era a primeira vez na história do Brasil que um Negro assumia este cargo.

A partir dos anos dois mil, Abdias receberia uma porção de homenagens e premiações em reverência à sua trajetória de vida e pelos Extraordinários Serviços Prestados à Luta contra a Discriminação Racial. Abdias Nascimento faleceu em 24 de maio de 2011, aos 97 anos.

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TEATRO EXPERIMENTAL DO NEGRO (TEN) 

 Surgiu em 13 de outubro de 1944, no Rio de Janeiro, idealizado por Abdias Nascimento com a proposta de valorização social do Negro e da cultura Afro-brasileira por meio da educação e arte, bem como com a ambição de criar um novo estilo dramatúrgico e não uma mera recriação do que se produzia em outros países. Com objetivo de encenar e estimular a criação de peças dramáticas voltadas à cultura e aos temas do Povo Negro, o TEN tinha a missão de trabalhar pela inserção do Negro na cena brasileira com sua cultura e personalidade.

 

O TEN reuniu pessoas que não tinham contato anterior com as artes cênicas. A primeira turma chegou a juntar 600 alunos, a maior parte deles vindos da classe pobre e sem escolaridade. Assim, além das leituras de textos e dos ensaios, o grupo deu aulas de alfabetização e de cultura geral. Abdias enxergava nesse contexto uma oportunidade de fazer a população Afro-brasileira enxergar a discriminação que sofria por parte dos brancos e encontrar seu lugar como protagonista.

Além da ação artística, o Teatro Experimental do Negro também atuou nas frentes sociais. Como defesa da Mulher Negra, criaram a Associação das Empregadas Domésticas e o Conselho Nacional de Mulheres Negras.  Constantemente inferiorizadas, estas mulheres receberam pela primeira vez a chance de questionar as condições de trabalho que lhes eram impostas. Nas palavras de Abdias: “Teve muita “madame” que se aborreceu (…) nós estávamos botando minhocas nas cabeças de suas empregadas”. Era o empoderamento de uma classe que, historicamente, sempre teve seu protagonismo negado.

O TEN também promovia concursos que favoreciam a Beleza Negra. As candidatas eram selecionadas por meio de critérios como a criatividade, conhecimentos gerais e postura ética. O TEN promoveu, ainda, a Semana do Negro e o concurso de artes plásticas. Também foram promovidos terapias em grupo de modo a tratar os efeitos psicológicos do racismo em suas vítimas.

O grupo teatral afirmava Negros e Negras dentro de uma sociedade branca cujo racismo historicamente enraizado era disfarçado pela bandeira da falsa “democracia racial”. Fortemente ativo, Abdias do Nascimento defendia a valorização da CULTURA NEGRA como meio de combate à discriminação racial. O TEN fazia o Negro enxergar a exploração pela qual passava e lhe dava autoconfiança para conquistar seu espaço social. O propósito era criar uma dramaturgia de autoria Negra, que focasse em temas da cultura Afro-brasileira e discutisse questões que, até então, ninguém dava a devida atenção. Por essa razão, o TEN foi pensado para ser um organismo teatral que promovesse o protagonismo Negro para defender a “verdade cultural do Brasil”.

Abdias do nascimento e Léa Garcia no Teatro Experimental do Negro

 

 O corpo de atores era formado, inicialmente, por operários, empregados domésticos, moradores de favelas sem profissão definida e modestos funcionários públicos. O TEN os ensinou a enxergar criticamente os espaços destinados aos Negros no contexto brasileiro. Este projeto disponibilizou a seus membros cursos de alfabetização, além aulas de teatro e interpretação, mesclando debates e exercícios práticos. O Teatro Experimental do Negro tinha grandes ambições artísticas e sociais, dentre elas, estava a exaltação/reconhecimento do legado cultural e Humano do Afrikano no Brasil.

Dada à inexistência de peças dramáticas que refletissem sobre a situação do Negro no Brasil, o grupo decidiu interpretar o texto estadunidense “O Imperador Jones” que tinha a mesma proposta. A estreia da peça se deu em 8 de maio de 1945, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde nunca antes havia pisado um Negro, fosse como intérprete; fosse como público.

A atuação do TEN não se limitava ao teatro ou a uma crítica social restrita à esfera discursiva. As aspirações do grupo incluíam a melhoria real da qualidade de vida da população Negra.

O TEN adotava a postura político-discursiva do “Négritude”, movimento que impulsionou a luta pela independência de muitos países Afrikanos, como o Senegal, e influenciou a busca por libertação dos povos Afro-americanos. Assim, tinha como bandeira “priorizar a valorização da personalidade e cultura específicas ao Negro como caminho de combate ao racismo”

O Teatro Experimental do Negro é responsável por inaugurar o teatro moderno brasileiro.

 

 

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1. De acordo com Abdias Nascimento, qual a origem de sua admiração pelo Teatro?

2. Por que Abdias foi preso na penitenciária do Carandiru?

3. Comente sobre o Teatro do Sentenciado.

4. Apesar do sucesso na estreia do Teatro Experimental do Negro, quais foram as críticas negativas? Você concorda?

5. Qual o objetivo de Abdias Nascimento com a criação do TEN?

6. Como eram selecionadas as candidatas nos concursos de Beleza Negra?

7. Qual grupo de teatro é considerado o marco inicial do teatro moderno no Brasil? Justifique.

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