Uma
forma de compreender a Ancestralidade é percebendo que nós só estamos aqui
nesse mundo porque alguém veio antes de nós. Somos os sonhos de nossos
Ancestrais e a nossa existência é o testemunho vivo da grandiosidade do nosso
passado. Cultuar nossos Ancestrais é uma forma de honrar a nossa existência e
de agradecer por toda herança cultural e espiritual que nos foi deixada. Na
filosofia, o existencialismo está relacionado com a condição humana e o sentido
da vida, ou seja, com a existência humana e a interação das pessoas com o
mundo.
Com
o passar do tempo, a existência dos jovens Negros/as se torna marcada pela
“dupla consciência” de saber que é Negro numa sociedade branca que não vê as
pessoas Negras como um ser humano completo. Pelo contrário, é atribuído valores
negativos a quase tudo que é Negro. Em terras de Diáspora, até a palavra Negro/Negra
é evitada entre os brancos ou ricos, preferindo falar moreno, moreninho,
escurinho etc seguindo a falsa lógica de que “nem todos gostam de ser chamados
de Negro”. Afinal, por que chamar de Negro seria um problema? Evidente que o
racismo promovido pelos brancos sempre reforçou e reforça esse pensamento que
negativa a identidade Negra. Quase sempre, falar que uma pessoa é Negra acaba
reduzindo ela à sua cor e reforçando a desumanização. Justamente por isso, por
conta dessa violência, se afirmar como mestiça ou pardo passa a ser uma
estratégia para fugir do racismo ao dizer que não é Negro (angústia
existencial).
A
definição do ser Negro não parte do próprio Povo Negro, então somos definidos
pelos outros e não por nós mesmos. Não se definir significa ter uma existência
dependente de quem não nos aceita – humanidade por concessão. Por isso que o
existencialismo vai propor que as pessoas Negras deixem de viveram a partir da
reação (sempre combatendo os ataques racistas) e passemos também a viver a
partir da ação (afirmar nossa Negritude). Um Povo se autodefinir é definir sua
própria existência de acordo com seus próprios valores.
A
demonização das religiões de Matriz Afrikana como o candomblé, faz com as
pessoas não aceitem a cultura Negra e passem a rejeitá-la, levando ao conflito
de “ser negro, mas não conhecer a cultura Negra”. A criminalização da cultura
Negra que a sociedade branca impôs considerando o samba, a capoeira, o funk etc
como associados ao crime e à violência acaba sendo transferida para o Povo
Negro que também passa a ser associado à violência e agressividade
(desumanização). Daí o surgimento de movimentos como “Vidas negras Importam” e
“Black Power” para afirmarem a Humanidade e a beleza de ser Negro e de ser
Negra.
A
ascensão econômica é vista como uma alternativa para fugir da falsa ideia de
que as pessoas Negras sofrem racismo porque são pobres e marginais. Através dos
estudos e do crescimento profissional é esperado ser reconhecido como ser
humano, mas nesse processo ocorre um embranquecimento. Para conseguir o emprego
a candidata deve prender o cabelo ou alisar; o sucesso no amor é associado a
namorar uma pessoa branca (muito comum entre artistas e esportistas); as
crianças são batizadas com nomes europeus; frequentar teatro e ópera para
demonstrar “ter cultura”; comprar um carro caro ou um celular famoso para
mostrar poder econômico; a ascensão social vem acompanhada da negação da Negritude.
Mas nada disso impede a violência policial, as acusações de roubos nos
shoppings, a identificação sempre como empregado e nunca como cliente nos
ambientes de luxo.
Referências
Lélia Gonzalez – A categoria
político-cultural de amefricanidade
Neusa Santos – Tornar-se Negro
Franz Fanon – Peles Negras, máscaras
brancas.
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