Os berços civilizatórios

Para Cheikh Anta Diop, o que ocorreu foi a divisão da humanidade em berços civilizatórios totalmente opostos, o berço meridional (África) ocasionou o matriarcado, enquanto o berço setentrional (Eurásia) conduziu ao patriarcado. O meio ambiente exerceu uma influência sob as formas políticas e sociais, então seria estranho caso berços climaticamente tão opostos resultassem em estruturas idênticas. 

As estepes euroasiáticas eram marcadas pelo extremo frio da Era Glacial Würm, impossibilitando plantações em um solo tão gelado, resultando em sociedades voltadas para a caça e ao nomadismo, que por sua vez, conduziu ao patriarcado. O berço meridional se diferencia pelo seu clima quente e humanamente mais agradável, conduzindo à agricultura e ao sedentarismo durante a Revolução Neolítica. Em vários momentos, ambos entraram em sanguinários conflitos pelo domínio do território em disputa.

As culturas Africanas compartilham as mesmas bases civilizatórias, constituindo assim uma Unidade Cultural entre elas. Assim, o berço meridional (África), local de origem das populações melanodérmicas (Negras), se configura pelo Estado-territorial, propriedade comum do solo e xenofilia. Além do sedentarismo agrícola, a esfera simbólica da mãe como algo sagrado e o sepultamento, eram elementos característicos de sociedades sedentárias. O sistema matriarcal atua de forma que o homem, com valor econômico reduzido, é o que se submete a sair de seu clã e ir para o da esposa.

Por sua vez, o berço setentrional (europa, oriente médio e norte asiático) é o local da mutação que originou os povos leucodérmicos (brancos, semitas, sino-nipônicos). Marcado por seu clima extremamente gelado durante a glaciação Würm, as estepes euroasiáticas resultaram em povos nômades e associados à caça, inicialmente indiferentes à agricultura, xenófobos, que tinham como valor cultural a propriedade privada do solo e sua organização política típica era a Cidade-Estado, notoriamente expansionista e belicista. Seu prototípico na Antiguidade é o mundo greco-romano. O nomadismo leva ao patriarcado, porque nessas sociedades a mulher acaba tendo um valor econômico reduzido e ao se casar, ela abandona seu clã e se junta ao clã de seu marido, ocasionando um parentesco patrilinear. Outro fator muito interessante no berço setentrional era a prática de cremação dos mortos (prática funerária mais adequada para uma vida nômade) e o culto ao fogo, já que em uma região em que o frio podia ser tão severo, a divinização do fogo se torna previsível.

Kemet vivia sobre um sistema matriarcal típico do berço meridional. O matriarcalismo kemético se evidencia no mito de Auset e Ausar, mito fundamental sobre a origem da nação de Kemet. Ausar é o deus do trigo e da fertilidade, personificado no trigo, por sua vez, Auset é a deusa do trigo e da fecundidade, reverenciada como Deusa-Mãe. Atribui-se a Auset a descoberta do trigo e da cevada. Portanto, conclui-se que as mulheres tiveram papel primordial na descoberta da agricultura, por isso a associação matriarcado-agricultura.

Em Kemet existiram mulheres que reinavam conjuntamente com seu marido faraó, como Tiye, Nefertati e Nefertiti, além de Hatshupsut, que reinou sozinha durante a 28ª Dinastia. No resto da África, Makeda, a Rainha de Sabá (1005-950 a.C.) e as rainhas das linhagens candances da Núbia (300 a.C. - 300 d.C.) são exemplos expressivos do matriarcalismo meridional.


Veja o artigo completo aqui.




Comentários