Oyèrónkẹ Oyěwúmí no texto “Conceituando gênero”, traz a complexidade cultural, descrevendo que “marido” e “esposa” na África não tem especificidade de gênero. Conforme a autora, nesta complexa cultura, homens podem ser esposas, bem como mulheres podem ser maridos. E, no texto sobre laços familiares ela aprofunda o assunto focando na família, e esclarece:
Em grande parte da África, “esposa” é apenas uma palavra de seis letras [...]. Ser esposa tende a funcionar mais como um papel, que como uma identidade [...]. Em toda a África, a categoria geralmente traduzida como esposa não é o gênero específico, mas simboliza relações de subordinação entre quaisquer duas pessoas.
Partindo dos conceitos de laços familiares, a autora critica os estudos feministas ocidentais de família nuclear euro-americana, que, segundo ela, ignoram outros arranjos familiares, como por exemplo, as famílias e culturas africanas que não se pautam em gênero ou homem/mulher e/ou em binarismos baseados em sexo/corpo, mas na ancestralidade, idade e geração. Para ela, o discurso sobre a família está em toda parte, mas a questão preocupante é o uso generalizado da metáfora da família. Ela, então, questiona o feminismo ocidental: de que família estamos falando?
Na visão ocidental, as mulheres estariam oprimidas pelo patriarcado em qualquer sociedade, no entanto, ela assinala que na sociedade Yorubá (na África) a categoria social “mulher”, identificada anatomicamente e assumida como vítima em desvantagem social, não existe. Seu estudo trata de mostrar a ausência de gênero no antigo Oyó, assinalando que o tempo do gênero chegou nesta sociedade no período colonial.
Comparando com as culturas africanas no que tange a epistemologia, a autora afirma que o gênero na África não se fundamentou na biologia/sexo, mas no sistema de “Senioridad”, isto é, comando, hierarquia de posição social, idade, geração e categoria social no contexto de liderança e respeitabilidade.
Ainda são visíveis na África, comunidades que deixam rastros de culturas plurais, matriarcais, matrilineares, e, também, ambíguas nas relações de gênero. Numa comparação do feminismo global ou euro-americano com o africano são os diferentes significados de gênero no contexto da reprodução, família e casamento, em nada é similar a conjuntura teórica ocidental, na qual enterra a mulher na submissão pela reprodução.
Sobre a poligamia, conforme o estudo de Amadiume, na família poligâmica todos do grupo têm diferentes funções, e não é o homem o provedor; As mulheres, por sua vez, são responsáveis por diferentes papéis e não exclusivamente o serviço doméstico (este não tem o mesmo peso ocidental, apesar de também fazer parte), uma das funções das mulheres é o de prover a alimentação, no sentido de providenciar e não necessariamente cozinhar. questão que não é igual ao ocorrido no ocidente, pois a comida deve ser providenciada cotidianamente e produzida.
Artigo completo Igualdade ou desigualdade de genero na Africa
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