A mais antiga data histórica da humanidade

- Cheikh Anta Diop, As origens Africanas das Civilizações

Em nenhum outro lugar as condições naturais favoreceram o desenvolvimento de uma sociedade humana para a mesma extensão como no Egito. Em nenhum outro lugar nós encontramos uma indústria Calcolítica comparável em sua perfeição técnica. Além disso, para além de algumas estações de idade incerta na Palestina, nenhum vestígio do homem mais antigo do que 4000 a.C. existe na Síria ou Mesopotâmia.

Por essa data, os Egípcios tinham os pés no limiar de sua própria história. É, então, razoável atribuir esta evolução precoce dos primeiros habitantes do Egito para seu próprio gênio e às condições excepcionais do Vale do Nilo. Nada prova que foi devido à incursão de estranhos mais civilizados. A própria existência de tais, ou pelo menos de sua civilização, continua para ser provada.

De um modo geral, estas observações por Moret ainda são irrefutáveis hoje. O autor faz alusão à data 4241 A.C. [4236 depois de uma ligeira correção dos primeiros cálculos], quando o calendário estava definitivamente em uso no Egito. Assim, é no Egito que encontramos, com certeza matemática, a mais antiga data histórica da humanidade. O que encontramos na Mesopotâmia? Nada suscetível de ser datada com certeza. A Mesopotâmia ainda estava construindo com tijolos secados ao sol feitos de barro que a chuva transformava em uma massa de lama.

As pirâmides, templos e obeliscos do Egito, sua abundância de colunas em Luxor e Karnak, suas avenidas de Esfinges, os colossos de Memnon, suas esculturas em rocha, seus templos subterrâneos com colunas proto-Dóricas (Deir­el­Bahari) em Tebas, são uma realidade arquitetural palpável ainda hoje, evidência histórica que nenhum dogma pode explodir no ar.

Em contraste, o que o Irã (Elam) e a Mesopotâmia produziram antes do oitavo século (época dos Assírios)? Somente montes de barro disformes.

No Egito, o estudo da história repousa em grande parte em tais documentos escritos como a Pedra de Palermo, as Tábuas Reais de Abydos, o Papiro Real de Turin, e a Crônica de Manetho. A estes documentos autênticos, temos de acrescentar todo o corpo de evidências relatadas pelos escritores antigos, de Heródoto a Diodoro, para não mencionar os Textos das Pirâmides, O Livro dos Mortos, e milhares de inscrições nos monumentos.

Na Mesopotâmia, era inútil procurar qualquer coisa similar. As tabuletas cuneiformes em geral carregam nada mais que contas de comerciantes, recibos e contas laconicamente escritos. Os antigos permaneceram em silêncio sobre a suposta cultura Mesopotâmica anterior aos Caldeus. Eles consideraram esta última uma casta de sacerdotes­astrônomos Egípcios, isto é, Negros.

De acordo com os Egípcios, relata Diodoro, os Caldeus eram “uma colônia de seus sacerdotes que Belus tinha transportado sobre o Eufrates e organizado no modelo da casta­mãe, e esta colônia continuou a cultivar o conhecimento das estrelas, conhecimento que ela trouxe da pátria.”

A cronologia de Viktor Christian, que se baseia nos cálculos astronômicos de Kugler, data o início da primeira dinastia de Ur entre 2600 e 2580, o que seria, portanto, também o período dos chamados túmulos “reais”. A data oficial, adotada até agora sem nenhuma razão especial, oscila entre 3100 e 3000. Na verdade, a escolha de 3100 não resulta de nenhuma necessidade além daquela de sincronizar a cronologia Egípcia e Mesopotâmica.

Uma vez que a história Egípcia, de acordo com as estimativas mais moderadas, começa em 3200, torna­-se indispensável, “por solidariedade”, fazer a história Mesopotâmica começar em aproximadamente o mesmo tempo, mesmo se todos os fatos históricos conhecidos sobre essa região possam caber em um muito período muito mais curto. Aludindo à estimativa de Christian, Contenau escreve: “O que devemos pensar sobre esses novos números? Em si mesmos, eles parecem dar tempo suficiente para os eventos históricos.”

A partir desses textos, é evidente que a sincronização da história Egípcia e Mesopotâmica é uma necessidade resultante de idéias, e não de fatos. A idéia motivante é ter sucesso em explicar o Egito pela Mesopotâmia, ou seja, pela Ásia Ocidental, o habitat original dos Indo­Europeus. O anterior demonstra que, se permanecermos dentro do reino dos fatos autênticos, nós somos forçados a ver a Mesopotâmia como uma filha tardiamente nascida do Egito. As relações da proto­história não implicam necessariamente a sincronização da história nos dois países.

- Cheikh Anta Diop


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