Relações internacionais na Antiguidade Clássica

 


Esta é a forma como a aliança duradoura entre Egípcios e Fenícios pode ser explicada. Mesmo durante os períodos mais conturbados de grande infortúnio, o Egito poderia contar com os Fenícios como pode­se contar mais ou menos com um irmão.

Entre as narrativas monumentais gravadas nas paredes de templos Egípcios e referentes às grandes insurreições na Síria contra a hegemonia Egípcia, nós nunca vemos nas listas dos rebeldes e dos vencidos os nomes de Sidônios, de sua capital, ou de qualquer das suas cidades. A mais formidável dessas revoltas, instigada pelos

Assírios ou então por Hititas do norte, foram suprimidas por Tutmés III, Seti I, Ramsés II, e Ramsés III...



Para ter certeza, não devemos minimizar o papel das relações econômicas entre Egito e Fenícia ao explicar aquela lealdade que parece ter existido. Pode­se também compreender que a religião e crenças Fenícias são, em certa medida, meras réplicas das do Egito. A cosmogonia fenícia é revelada em fragmentos de Sanconíaton, traduzidos por Filo de Biblose relatado por Eusébio.

De acordo com esses textos, no início havia incriada, caótica matéria, em desordem perpétua (Bohu); A Respiração (Rouah) pairava sobre o Caos. A união desses dois princípios foi chamada Chephets, Desejo, que está na origem de toda criação.

O que nos impressiona aqui é a semelhança entre essa Trindade cósmica e aquela encontrada no Egito, conforme relatado por Amélineau em seus Prolégomènes: Na cosmogonia Egípcia também, no início havia caótica, incriada matéria, o primitivo Nun (cf. Nen = nada, em Wolof). Esta matéria primitiva continha, sob a forma de princípios, todos os seres possíveis. Ele também continha o deus desenvolvimento potencial, Khepru. Assim que o nada primitivo criou Ra, o demiurgo, o seu papel terminou. Daí em diante a linha seria ininterrupta até o advento de Osíris, Isis e Horus, antepassados dos Egípcios. A Trindade primitiva, então, mudou­se a partir da escala do universo para aquela do homem, assim como o fez mais tarde no Cristianismo.

Cheikh Anta Diop. A origem Africana das Civilizações. Página 86


Comentários