Reinado
O conceito de reinado é uma das indicações mais impressionantes da similaridade de pensamento entre o Egito e o resto da África Preta. Deixando de lado tais princípios gerais como a natureza sacrosanta do reinado e salientando um traço típico devido à sua estranheza, devemos destacar o assassinato ritual do monarca. No Egito, o rei não deveria reinar a menos que ele estivesse bem de saúde. Originalmente, quando sua força diminuia, ele era realmente posto para morrer.
Mas realeza logo recorreu a vários expedientes. O rei era compreensivelmente ansioso para preservar as suas prerrogativas de sua posição, enquanto submetendo-se à mínima inconveniência possível. Assim, ele foi capaz de transformar a sentença fatal em uma simbólica: a partir de então, quando ficava velho, ele era apenas posto para morrer, ritualisticamente. Após o ensaio simbólico, conhecido como o "Festival Sed", o monarca era supostamente rejuvenescido, na opinião do seu povo e era mais uma vez considerado apto para assumir suas funções. Daí em diante, o “Festival Sed” foi a cerimônia de rejuvenescimento do rei: ritualística morte e revivificação do regente tornaram-se sinônimas e aconteceram durante a mesma cerimônia. (Cf. Charles Seligman‟s Egypt and Negro Africa: A Study in Divine Kingship. London: Routledge, 1934. [Egito e África Negra: Um Estudo em Reinado Divino; de Charles Seligman. London: Routledge, 1934.).
O monarca, o ser reverenciado por excelência, era também suposto ser o homem com a maior força vital ou energia. Quando o nível de sua força de vida caia abaixo de um certo mínimo, só poderia ser um risco para o seu povo se ele continuasse a reger. Essa concepção vitalista é a base de todos os reinos Africanos tradicionais, quero dizer, de todos os reinos não usurpados.
Algumas vezes isto operava de forma diferente; por exemplo, no Senegal, o rei não poderia governar se tivesse recebido feridas em batalha; ele tinha de ser substituído até a cura. Era durante tal substituição que um irmão paterno, que era filho de uma mulher do povo, tomava o trono. Como Lat-Soukabé, ele iniciou a dinastia Guedj, em torno de 1697.
A prática de substituir o rei sempre que sua força vital diminui, obviamente, decorre dos mesmos princípios vitalistas por todo o mundo Preto. De acordo com estas crenças, a fertilidade do solo, colheitas abundantes, a saúde das pessoas e do gado, o fluxo normal de eventos e de todos os fenômenos da vida, estão intimamente relacionados com o potencial da força vital do regente.
Em outras regiões da África Preta, os eventos ocorrem exatamente como no Egito no que diz respeito ao verdadeiro assassinato do monarca. Alguns povos ainda definem um limite de tempo, após o qual ele é considerado como sendo incapaz de governar e então é realmente posto para morrer. Entre os Mbum da África Central, este prazo é de dez anos e a cerimônia acontece antes da temporada de milheto [millet]. * [ * - Baumann & Westermann, Les Peuples et civilizations de l‟Afrique, followed by Les Langues et l‟éducation. Paris: Payot, 1948, p. 328.]
Os seguintes povos ainda praticam a morte ritual do rei: os Yoruba, Dagomba, Shamba, Igara, Songhay, os Hausa de Gobir, Katsena, e Daura, e os Shilluk. Esta prática também existiu na Meroë antiga, ou seja, Núbia, Uganda-Ruanda.
Cheikh Anta Diop, A origem Africana da civilização. capítulo 7 Argumentos suportando uma origem Negra, páginas 285 a 288.
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