Em seu livro, The Religion of the Yorubas [A Religião do Iorubás] (Lagos: C.M.S. Bookshop, 1948), J. Olumide Lucas traça a origem Egípcia deste povo da seguinte maneira:
CONEXÃO COM O EGITO ANTIGO. Embora seja duvidoso se está a visão de uma origem Asiática correta, não pode haver dúvida de que os Iorubás estavam na África em uma data muito remota. Uma corrente de evidência leva à conclusão de que eles devem ter se estabelecido por muitos anos naquela parte do continente conhecido como Egito Antigo. Os fatos que levam a esta conclusão podem ser agrupados sob os seguintes cabeçalhos:
A. Similaridade ou identidade de linguagem;
B. Similaridade ou identidade de crenças religiosas;
C. Similaridade ou identidade de idéias e práticas religiosas;
D. sobrevivência dos costumes e nomes de pessoas, lugares, objetos, etc. (Introdução, p. 18).
O autor, em seguida, cita muitas palavras comuns para Iorubá Egípcio:
ran: nome
bu: nome de lugar
Amon: oculto [concealed]
miri: água
Ha: grande casa
Hor: ser elevado, erguido [to be high]
Fahaka: peixes prateados
naprit: grão (ou semente).
Sobre a identidade de crenças religiosas, Lucas cita fatos impressionantes:
Provas abundantes da conexão íntima entre os antigos Egípcios e os Iorubás podem ser produzidas sob este cabeçalho. A maioria dos principais deuses eram bem conhecidos, ao mesmo tempo, para os Iorubás. Entre esses deuses estão Osiris, Isis, Horus, Shu, Sut, Thoth, Khepera, Amon, Anu, Khonsu, Khnum, Khopri, Hathor, Sokaris, Ra, Seb, as quatro divindades elementais, e outros. A maioria dos deuses sobrevive em nome ou em atributos ou em ambos (p. 21).
Ra sobrevive entre os Ioruba com seu nome Egípcio: Rara. Lucas cita a palavra I-Ra-Wo, que designa a estrela que acompanha o sol nascente. Esta palavra começa com um prefixo vogal, típico do Iorubá, e línguas essencialmente fonéticas segundo o autor (diríamos, como todas as línguas Africanas). Seus outros componentes são: Ra, a palavra Egípcia, e Wo: subir. Lucas sugere que Rara, significando: „não absolutamete‟, em Iorubá, indica que eles anteriormente juraram por esse deus
Da mesma forma, o nome do deus lunar, Khonsu, é encontrada entre os Iorubás como Osu (a lua). Lucas nos lembra que o kh oclusivo não existe em Iorubá, e que, se uma palavra estrangeira contém kh, deve-se seguir o seguinte procedimento: se o kh é seguido por outra consoante, uma vogal é adicionada e forma uma sílaba de acordo com a regra de consoante-vogal em Iorubá. Se o kh é seguido por uma vogal em uma palavra de mais de uma sílaba, ele é simplesmente descartado. Este é o caso com a palavra Osu.
Amon existe em Iorubá com o mesmo significado que tem no Egípcio antigo: oculto. O deus Amon é uma das primeiras divindades conhecidas pelos Iorubá e as palavras Mon e Mimon (santo, sagrado) são, provavelmente derivadas do nome deste deus, de acordo com Lucas. Thoth se tornaria To em Iorubá.
Em seguida, o autor oferece uma interessante análise etimológica da palavra Yoruba. Ele ressalta que o termo do Oeste Africano que significa "existir" torna-se ye mudando-se uma vogal. Quando dobrado para yeye, significa: ela que me faz existir, de onde se tem yeye mi: minha mãe, ela que me dá vida. Aliás, yaye significa "mãe" em Wolof, Sara, Baguirmian, etc. Yeye é geralmente contraído para ye ou iya; yemi: meu criador ou minha criadora, em Iorubá, é aplicado à Divindade Suprema.
Além disso, o termo Egípcio Rpa é o nome do príncipe herdeiro dos deuses, pelo qual Seb foi conhecido no Egito antigo durante o período feudal (o autor diz). Rpa provavelmente evoluiu para ruba, de acordo com regras linguísticas Iorubás: introdução de uma vogal entre duas consoantes e mudança do p pelo b. Se considerarmos yo como meramente uma variante de ye, temos Ye + Rpa = Yoruba, o que provavelmente significaria "o Rpa vivente ou o criador de Rpa.” [“the living Rpa or creator of Rpa.”] * [ * - Rom: homem, em Egípcio. Ya-ram: corpo, em Wolof. Com base na etimologia dada a Ya pelo autor, Ya-ram provavelmente quis dizer corpo vivo, homem vivo.]
Lucas apresenta uma análise igualmente interessante do nome aplicado para ovelha em Iorubá. Ele começa a partir do fato de que a palavra Grega aiguptos é usualmente derivada do Egípcio: Khi-Khu-Ptah, que significa o templo da alma de Ptah. As paredes deste templo estavam cobertas por imagens de ovelhas, juntamente com outros animais. Consequentemente, o nome do templo poderia ser aplicado pelas pessoas aos animais representados. Em Iorubá, a-gu-to = ovelha, e deve ser comparado com o ai-gup-tos dos Gregos. Este exemplo parece indicar que a emigração dos Iorubás veio mais tarde do que o contato entre o Egito e os Gregos. . . .
Finalmente, no que diz respeito à crenças religiosas idênticas, o autor cita a idéia de uma vida futura e aquela de um julgamento após a morte:
a deificação do rei;
a importância atribuída a nomes;
a forte fé em uma vida futura.
Aqui Lucas recorda que todas as noções ontológicas dos antigos Egípcios, tais como Ka, Akhu, Khu, Sahu, e Ba, são encontradas em Iorubá. Estas palavras existem na íntegra em Wolof e Peul, como será visto a seguir. A crença na existência de um espírito guardião é apenas um aspecto do Ka. Lucas se prolonga, por 414 páginas, sobre o estudo dessas crenças e discute em detalhe a sua identificação com as crenças Egípcias. Ele conclui observando a existência de hieróglifos Iorubás e cita vários exemplos. A identidade do panteão Egípcio e Iorubá sozinha seria suficiente para provar o contato precoce.
O que nós sabemos do povo Iorubá - até mesmo suas lendas - mostra que ele provavelmente se estabeleceu em sua atual localização relativamente recentemente, após uma migração de leste para oeste. Com Lucas, podemos assim considerar como um fato histórico a posse conjunta do mesmo habitat primitivo pelos Iorubás e os Egípcios. A forma latinizada de Horus, a partir da qual parece derivar o Orisha Iorubá, nos levaria a pensar que a sua migração não foi apenas posterior ao contato com os Gregos, mas também posterior ao contato com os Romanos.
Para concluir, devemos observar que Pédrals menciona, na página 107, o Monte Kuso perto de Ife, e a existência de um Monte Kuso na Núbia, próximo à Meroë antiga, a oeste do Nilo "no coração da terra de Kush".
Cheikh Anta Diop, A origem Africana da civilização. capítulo 9 Povoamento de África à partir do Vale do Nilo, páginas 372 a 378.
Comentários
Postar um comentário