Em seu livro, From Tribe to Empire [De Tribo à Império], Moret sublinhou o caráter essencialmente totêmico da sociedade Egípcia. Sua tese foi posteriormente combatida, quase como se fosse temido que graves consequências poderiam inevitavelmente resultar a partir dela. De fato, Frazer foi categórico sobre a origem do totemismo; ele insistiu que este só é encontrado em populações de cor. Não havia nenhuma maneira de aceitar sua tese se alguém esperava demonstrar a origem branca da civilização Egípcia.
Então, tentaram negar o totemismo Egípcio, enquanto procurando vestígios nas então-chamadas populações brancas, tais como os Berberes e Tuaregues. O zelo com que isto foi procurado nesses dois grupos prova que, se a pesquisa tivesse sido bem sucedida, não poderia mais ter havido qualquer dúvida sobre o totemismo Egípcio. Mas a tentativa fracassou: Arnold Van Gennep (1873-1957) não conseguiu detectar qualquer totemismo Berbere.
O debate finalmente derivou para abstração filosófica: dados etnográficos concretos foram transformados em cogitação, em um problema de lógica, em pura contemplação que nenhum fato poderia doravante perturbar por implicação.
Sem se aventurar em filosofia, era impossível negar que o caráter "tabu" de certos animais e plantas no Egito correspondem ao totemismo como este existe em toda a África Preta. Por outro lado, tais "tabus" eram estranhos para os Gregos e outras populações Indo-Européias desconheciam totemismo. Assim, os Gregos zombavam da veneração excessiva do Egípcio por animais e até mesmo por certas plantas.
Após um certo estágio de desenvolvimento social, que pode ser inferior ao nível de desenvolvimento e mistura que o povo Egípcio tinha alcançado, endogamia e totemismo não são mutuamente exclusivas, mas coexistem. Assim, hoje na África Preta, alguns maridos e esposas possuem os mesmos nomes totêmicos: N'Diaye, Diop, Fall, e assim por diante. Hoje em dia, nunca cruza suas mentes que tal prática poderia ter sido tabu. E, no entanto, ambos, marido e esposa são claramente conscientes de serem biologicamente partes da própria essência do mesmo totem. Ambos os companheiros são bem conscientes de compartilhar a mesma essência animal, a mesma essência biológica; eles são conscientes de pertencer originalmente à mesma tribo, tanto assim que muitas vezes lembram um ao outro desse fato. Conseqüentemente, a noção de Van Gennep de que os Egípcios, que muitas vezes se casaram com seus relativos próximos, especialmente suas irmãs, não poderiam ser totemistas, é definitivamente refutada aqui. Casamento com a própria irmã deriva de outro traço cultural igualmente difundida no mundo Preto: matriarcado, que será discutido brevemente.
Quando exogamia estava em vigor, uma espécie de relação era finalmente estabelecida entre clãs que contraiam casamento com o outro (entre dois, ou entre três, quatro ou mais clãs). A memória dessa relação pode explicar hoje, por exemplo, o Kal, um relacionamento de clã hipotético na sociedade Wolof autorizando o ridículo recíproco.
Apesar de estudos que tentam expandir a noção de totemismo, podemos dizer, com Frazer, que este está ausente de populações brancas. Caso contrário, teria sido evidente nas últimas hordas de bárbaros brancos que invadiram a Europa no século IV. Essas populações estavam no estágio etnográfico (clã, tribo) quando o totemismo, se presente, investe todos os atos da vida e é evidente em todos os níveis de organização social.
No entanto, nada, na vida dessas hordas, refletia a idéia de uma relação biológica entre homem e animal, seja no individual ou no sentido coletivo. Em contrapartida, não se pode negar que o Faraó participava de uma essência animal (o falcão), tal como fazemos hoje na África Preta.
Cheikh Anta Diop, A origem Africana da civilização. capítulo 7 Argumentos suportando uma origem Negra, páginas 277 a 280.
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