Há 89 anos, em 16 de setembro de 1931, na cidade de São
Paulo, foi criada a Frente Negra Brasileira (FNB). Durante a primeira metade do
século 20, a FNB foi a mais destacada entidade Negra no Brasil, Com um
programa preestabelecido de luta, visava conquistar posições para o Negro
em todos os setores da sociedade brasileira. Nas duas primeiras décadas do
século 20, até existiam clubes, associações recreativas e jornais que cobriam o
cotidiano dessa parcela da população em grandes centros, como Campinas e São
Paulo. Mas nenhuma iniciativa teve a força da Frente Negra Brasileira.
Na década de 1930, o período da política do café com leite
foi substituído pelo processo industrializador que ganhou impulso nos
governos de Getúlio Vargas (1930-1945). A maioria da população vivia no
campo, na zona rural, o que ainda representava uma herança do império
escravista que era dependente da produção agrícola, especialmente o café. Como
era recente a lei que impedia os fazendeiros brancos de escravizarem as
populações Indígenas e Afrikanas (menos de 50 anos atrás), a maioria da
população continuava trabalhando na produção agrícola quase sem direitos
trabalhistas.
As famílias Negras e Indígenas que foram viver nas
grandes cidades como a capital da época, Rio de Janeiro, encontravam grandes
dificuldades para conseguir emprego. O governo brasileiro do café com leite
estimulava a imigração de famílias brancas da europa que chegavam ao Brasil com
empregos garantidos, limitando ainda mais as chances de famílias Negras e
Indígenas de conseguirem um emprego. Foi nesse contexto que surgiu uma das
maiores organizações Negras da nossa história, a Frente Negra Brasileira
(FNB). Em parte, isso explica o apoio da FNB às políticas de Getúlio
Vargas, que se colocava como um presidente nacionalista e era visto como uma
esperança de melhoria nas condições de vida da população Negra.
Apesar disso, nem todos concordavam com o apoio da entidade
a Getúlio. Em julho de 1932, isso ficou evidente quando alguns membros da
Frente Negra romperam com a entidade e se alistaram na “Revolta
Constitucionalista de São Paulo” contra o governo provisório de Vargas.
Mas São Paulo se rendeu três meses depois, embora o Estado tenha se considerado
o “vencedor moral” do conflito. “Depois da guerra, o governo paulista pagou
indenizações às famílias de soldados mortos ou de combatentes que ficaram
inválidos.
Mas os jornais mostraram que muitos Negros ou familiares de
mortos não receberam as indenizações, como os brancos. Alguns reclamaram que
não ganharam sequer o soldo”, diz o professor Dr. Petrônio Domingues da
Universidade Federal de Sergipe (UFS) que fez uma pesquisa pioneira sobre
a participação da Legião Negra na Revolução Constitucionalista e autor de
livros sobre questões raciais, como Protagonismo Negro em São Paulo (Edições
Sesc).
“Em pouco tempo, a Frente Negra Brasileira abriu dezenas de
delegações em São Paulo e também em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito
Santo. Ela foi a maior organização Negra da história da República, a que teve
maior projeção e repercussão”, diz o historiador Petrônio Domingues. “A Frente
Negra Brasileira foi a primeira organização no país a falar que o então chamado
‘preconceito de cor’ era um problema nacional e estrutural. Hoje isso é
consenso, mas nos anos 1930 não era”, explica o professor Domingues.
Quanto às mulheres, de acordo com um dos fundadores da FNB,
o ativista Francisco Lucrécio, estas “eram mais assíduas na luta em favor
do Negro, de forma que na Frente [Negra] a maior parte eram mulheres. Era um
contingente muito grande, eram elas que faziam todo movimento”. Ainda que
outros estudos considerem a afirmação acima um tanto exagerada, torna-se
importante registrar que as mulheres exerciam várias funções na FNB.
Na Cruzada Feminina, elas eram mobilizadas, visando à
realização de trabalhos assistencialistas. Já as Rosas Negras se
dedicavam a organizar bailes e festivais artísticos.
A entidade, dona do jornal A Voz da Raça, combatia o
racismo e defendia políticas voltadas à melhoria das condições de vida da
população Negra. Também oferecia uma série de atividades aos sócios, como
bailes, festas, aulas de música, atendimento médico e palestras sobre questões
raciais e a situação política. A FNB existiu até 1937, quando a ditadura
do Estado Novo de Getúlio Vargas dissolveu partidos e organizações
sociais. A entidade chegou até a se transformar em um partido político um ano
antes — o primeiro e único partido negro da história do país. Mas nunca
chegou a participar de uma eleição.
Segundo pesquisadores, a influência da FNB foi enorme na
época, gerando uma série de organizações homônimas pelo país e influenciando
Movimentos Negros em todo Continente Indígena (américa) e no Caribe. “A Frente
Negra Brasileira foi a primeira no país a mostrar uma ação coletiva dos Negros
e Negras, que reivindicavam demandas contra o racismo a partir da participação
política e da presença no debate nacional. A gente fala muito da importância
dos movimentos Negros pelos direitos civis nos Estados Unidos nos anos 1960.
Mas, 30 anos antes, a FNB já havia iniciado essa luta no Brasil”, diz o Dr.
Petrônio Domingues.
**texto adaptado de alguns sites**
Para mais informações https://www.geledes.org.br/frente-negra-brasileira-2/
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