Frente Negra Brasileira (1931-1937)

Há 89 anos, em 16 de setembro de 1931, na cidade de São Paulo, foi criada a Frente Negra Brasileira (FNB). Durante a primeira metade do século 20, a FNB foi a mais destacada entidade Negra no Brasil, Com um programa preestabelecido de luta, visava conquistar posições para o Negro em todos os setores da sociedade brasileira. Nas duas primeiras décadas do século 20, até existiam clubes, associações recreativas e jornais que cobriam o cotidiano dessa parcela da população em grandes centros, como Campinas e São Paulo. Mas nenhuma iniciativa teve a força da Frente Negra Brasileira.

Na década de 1930, o período da política do café com leite foi substituído pelo processo industrializador que ganhou impulso nos governos de Getúlio Vargas (1930-1945). A maioria da população vivia no campo, na zona rural, o que ainda representava uma herança do império escravista que era dependente da produção agrícola, especialmente o café. Como era recente a lei que impedia os fazendeiros brancos de escravizarem as populações Indígenas e Afrikanas (menos de 50 anos atrás), a maioria da população continuava trabalhando na produção agrícola quase sem direitos trabalhistas.


As famílias Negras e Indígenas que foram viver nas grandes cidades como a capital da época, Rio de Janeiro, encontravam grandes dificuldades para conseguir emprego. O governo brasileiro do café com leite estimulava a imigração de famílias brancas da europa que chegavam ao Brasil com empregos garantidos, limitando ainda mais as chances de famílias Negras e Indígenas de conseguirem um emprego. Foi nesse contexto que surgiu uma das maiores organizações Negras da nossa história, a Frente Negra Brasileira (FNB). Em parte, isso explica o apoio da FNB às políticas de Getúlio Vargas, que se colocava como um presidente nacionalista e era visto como uma esperança de melhoria nas condições de vida da população Negra.

Apesar disso, nem todos concordavam com o apoio da entidade a Getúlio. Em julho de 1932, isso ficou evidente quando alguns membros da Frente Negra romperam com a entidade e se alistaram na “Revolta Constitucionalista de São Paulo” contra o governo provisório de Vargas. Mas São Paulo se rendeu três meses depois, embora o Estado tenha se considerado o “vencedor moral” do conflito. “Depois da guerra, o governo paulista pagou indenizações às famílias de soldados mortos ou de combatentes que ficaram inválidos.

Mas os jornais mostraram que muitos Negros ou familiares de mortos não receberam as indenizações, como os brancos. Alguns reclamaram que não ganharam sequer o soldo”, diz o professor Dr. Petrônio Domingues da Universidade Federal de Sergipe (UFS) que fez uma pesquisa pioneira sobre a participação da Legião Negra na Revolução Constitucionalista e autor de livros sobre questões raciais, como Protagonismo Negro em São Paulo (Edições Sesc).

“Em pouco tempo, a Frente Negra Brasileira abriu dezenas de delegações em São Paulo e também em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Ela foi a maior organização Negra da história da República, a que teve maior projeção e repercussão”, diz o historiador Petrônio Domingues. “A Frente Negra Brasileira foi a primeira organização no país a falar que o então chamado ‘preconceito de cor’ era um problema nacional e estrutural. Hoje isso é consenso, mas nos anos 1930 não era”, explica o professor Domingues.

Quanto às mulheres, de acordo com um dos fundadores da FNB, o ativista Francisco Lucrécio, estas “eram mais assíduas na luta em favor do Negro, de forma que na Frente [Negra] a maior parte eram mulheres. Era um contingente muito grande, eram elas que faziam todo movimento”. Ainda que outros estudos considerem a afirmação acima um tanto exagerada, torna-se importante registrar que as mulheres exerciam várias funções na FNB.  Na Cruzada Feminina, elas eram mobilizadas, visando à realização de trabalhos assistencialistas. Já as Rosas Negras se dedicavam a organizar bailes e festivais artísticos.

A entidade, dona do jornal A Voz da Raça, combatia o racismo e defendia políticas voltadas à melhoria das condições de vida da população Negra. Também oferecia uma série de atividades aos sócios, como bailes, festas, aulas de música, atendimento médico e palestras sobre questões raciais e a situação política. A FNB existiu até 1937, quando a ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas dissolveu partidos e organizações sociais. A entidade chegou até a se transformar em um partido político um ano antes — o primeiro e único partido negro da história do país. Mas nunca chegou a participar de uma eleição.


Segundo pesquisadores, a influência da FNB foi enorme na época, gerando uma série de organizações homônimas pelo país e influenciando Movimentos Negros em todo Continente Indígena (américa) e no Caribe. “A Frente Negra Brasileira foi a primeira no país a mostrar uma ação coletiva dos Negros e Negras, que reivindicavam demandas contra o racismo a partir da participação política e da presença no debate nacional. A gente fala muito da importância dos movimentos Negros pelos direitos civis nos Estados Unidos nos anos 1960. Mas, 30 anos antes, a FNB já havia iniciado essa luta no Brasil”, diz o Dr. Petrônio Domingues.

**texto adaptado de alguns sites**

Para mais informações https://www.geledes.org.br/frente-negra-brasileira-2/


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